Depressão em tempos de pandemia
20 jan | Leitura: 5min
A depressão é um transtorno psiquiátrico comum, porém sério, caracterizado por alterações de humor e uma tristeza profunda, associadas a sentimentos de dor, amargura, desesperança, culpa, entre outros sintomas. Diferentemente da tristeza natural provocada pelas adversidades ou desenganos inerentes à vida, a tristeza patológica ocasionada pela depressão tem um caráter persistente, mesmo sem uma causa aparente.
Por isso mesmo, interfere na vida comum do indivíduo, afetando sua capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer ou mesmo de experienciar o lazer e aquilo que lhe causa prazer, tornando-se assim uma doença profundamente incapacitante, especialmente nos casos mais graves.
Nas raízes desse distúrbio, encontra-se uma combinação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais, em um processo complexo de interação. Quanto aos sintomas, podem variar em termos de gravidade, frequência e duração, de pessoa para pessoa, conforme sua condição e características específicas.
A depressão em fatos
No mundo, estima-se que mais de 300 milhões pessoas sofram esse transtorno;
Menos da metade das pessoas com depressão recebe tratamento (em alguns países, menos de 10%);
É a principal causa de incapacidade em todo o mundo;
Apresenta desde quadros leves àqueles mais graves, podendo levar ao suicídio nos piores casos;
Em geral, afeta mais as mulheres do que os homens;
Depressão e pandemia
Não há dúvidas que a pandemia de Covid-19 trouxe uma série de desafios e de fatores agravantes para a saúde mental dos indivíduos. Em razão disso, diversos estudos têm buscado medir esse impacto, identificando um aumento na incidência de estresse, ansiedade, insônia, depressão, entre outras dificuldades psicossociais, em decorrência do cenário de limitação de mobilidade, de incertezas e de alterações na vida cotidiana criado pela pandemia.
Só em 2020, por exemplo, foram diagnosticados 53 milhões de novos casos de depressão (um aumento de 28%). Destes, 35 milhões em mulheres e 18 milhões em homens (Fonte: CNN).
Fatores como a sobrecarga de trabalho, a mediação de conflitos familiares e o aumento da violência doméstica podem explicar o aumento mais acentuado desse tipo de distúrbio no público feminino durante a pandemia, embora o histórico de estatísticas também indique em geral uma maior prevalência da depressão entre as mulheres, em parte decorrente das oscilações hormonais mais intensas a que estão sujeitas.
O impacto para o público jovem foi também significativo. O isolamento, a ansiedade e as incertezas causadas pela pandemia, sobretudo para sujeitos que estão ainda em fase de amadurecimento emocional, tem ocasionado, além da depressão, outras espécies de distúrbios, como insônia, exaustão ou distúrbios de peso. A perda de contato e convívio social com os colegas e com o próprio universo da escola, assim como o uso excessivo das redes sociais neste período também contribuíram para este quadro.
Além disso, o acesso mais universal e instantâneo a uma imensa quantidade de informações, tão característico dos tempos modernos, se por um lado traz os seus benefícios, pode também desempenhar um papel oposto, tanto pelo processo de hiperinformação como também pela difusão massiva de fake news, agravando em muitos casos o estresse e a ansiedade nos indivíduos.
Sintomas e tratamento
Conforme a intensidade dos sintomas, a depressão pode ser categorizada como leve, moderada ou grave. No primeiro caso, identifica-se uma certa dificuldade na realização de atividades rotineiras ou sociais, sem maiores prejuízos, no entanto, à funcionalidade do indivíduo como um todo. Já nos tipos de depressão mais graves, as atividades pessoais, profissionais e sociais serão comprometidas, podendo levar, no pior dos casos, até mesmo ao suicídio.
A depressão pode ser uma doença insidiosa, desenvolvendo-se silenciosamente. Por isso, é preciso estar atento aos menores sinais.
No caso de crianças e adolescentes, vale atentar para os seguintes indicativos:
Irritação ou agitação excessiva;
Tristeza e baixa autoestima;
Interesse por conteúdos relacionados à ideação suicida ou à automutilação;
Ambiente familiar hostil;
Relatos de negligência ou violência psicológica.
Para os adultos em geral, alguns dos sinais de atenção são:
Tristeza constante e anedonia (diminuição do interesse e do prazer relacionados às atividades);
Distúrbios no sono e no peso, fadiga constante, alteração da libido;
Problemas psicomotores e dificuldade de concentração;
Baixa autoestima, culpa excessiva, pensamentos negativos e ideação suicida.
Os idosos, por se tratarem de um grupo de risco, foram muito impactados pela pandemia, sofrendo com o isolamento e a diminuição de seu convívio social, além dos demais desafios e fatores de risco naturalmente associados à sua faixa etária. Por isso, é preciso observar com cuidado elementos como:
Declarações autodepreciativas;
Isolamento ou desinteresse pela família;
Fala de apetite, irritabilidade, ansiedade, insônia;
Perda de memória, confusão mental.
A boa notícia é que a depressão conta com diversos tratamentos eficazes, de caráter psicológico e medicamentoso, sendo fundamental a busca por ajuda especializada ante os primeiros sintomas. Para os casos mais leves, os tratamentos psicoterápicos e psicossociais têm demonstrado bons resultados, ao passo que nos casos mais graves o tratamento geralmente é feito com o auxílio de antidepressivos.
Contar com uma rede de apoio e escuta, entre familiares, amigos ou profissionais capacitados, é também um recurso muito importante para a manutenção da saúde mental e psíquica – especialmente no contexto da pandemia – e para a prevenção de quadros mais graves.
Praticar exercícios físicos, manter bons hábitos alimentares e de sono, fazer atividades que sejam agradáveis, prazerosas ou relaxantes são também práticas que contribuem para a saúde mental e para a prevenção de distúrbios dessa natureza.
Apesar dos tratamentos disponíveis, o índice de pessoas que de fato passam por eles é, no entanto, ainda bastante reduzido. Dentre as causas para este cenário, podem ser citadas a falta de recursos, a carência de profissionais treinados, a avaliação imprecisa e ainda o estigma social associado a este e outros transtornos mentais. Daí a importância do acesso à informação e do investimento em políticas públicas de saúde e bem-estar mental.
Concluindo
Em suma, a depressão é uma doença séria, a que estão sujeitas todas as pessoas e que precisa ser combatida com informação, autocuidado e tratamento especializado, além de investimentos em políticas voltadas para a saúde mental.
Aos primeiros sinais, procure ajuda, para você ou para outras pessoas que lhe sejam caras. Com acompanhamento médico adequado, são grandes as chances de sucesso no tratamento da depressão e na reabilitação do indivíduo para uma vida saudável e produtiva.
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