O dinheiro desafiando os casais contemporâneos
24 mar | Leitura: 8min
O senso comum identificou o dinheiro como uma das fontes mais comuns de desentendimentos entre casais, podendo inclusive precipitar um processo de separação e divórcio.
Porém, não é apenas a sabedoria popular, mas também estudos científicos que confirmam o papel do dinheiro e a influência da gestão e da vida financeira no relacionamento conjugal.
O aumento do estresse durante a pandemia tem agravado a saúde mental e afetado negativamente os casais. Com o agravamento cada vez maior das condições econômicas, tem aumentado o estresse financeiro, no que diz respeito à ausência de renda satisfatória e à insatisfação com essa condição, prejudicando assim a saúde mental.
O apoio social é um dos principais fatores facilitadores para o enfrentamento de dificuldades financeiras, indicando a relevância de um vínculo conjugal forte na diminuição dos riscos de comprometimento da saúde mental.
Embora os casais iniciem a vida conjugal com muitas expectativas positivas, as dificuldades financeiras podem gerar instabilidade conjugal, uma vez que exigem que os casais alterem a forma como estão gerindo as finanças, por exemplo, reduzindo gastos ou procurando um segundo emprego, medidas nem sempre apoiadas pelos dois.
O que dizem os estudos
Estudos têm demonstrado que experiências de estresse financeiro e conjugal ao longo do casamento podem ter impactos prejudiciais duradouros sobre a saúde física a longo prazo; que os conflitos conjugais sobre dinheiro têm sido mais amplos, problemáticos e recorrentes, apesar das tentativas mais frequentes de resolução dos problemas (Papp et al., 2009); e que a tensão financeira durante os primeiros anos de casamento é um fator significativo associado ao aumento de preocupações com a instabilidade conjugal, tanto para maridos quanto para esposas (Barton & Bryant, 2016).
As evidências são muitas de que a possibilidade de discutir sobre a gestão do dinheiro e o planejamento financeiro tende a melhorar a comunicação do casal, reduzindo as fontes de conflito. É essencial, portanto, conversar sobre o assunto.
Além disso, a pandemia causada pelo coronavírus COVID-19 tem agravado a saúde mental e aumentado o estresse financeiro, comprometendo a qualidade de vida e o cotidiano dos casais.
Considerando o fato de que conversar sobre dinheiro e sobre finanças é um assunto delicado, desenvolver mecanismos mais apropriados para a organização das finanças pode influenciar positivamente na qualidade da relação conjugal.
Nesse sentido, a associação de contabilistas norte-americana criou uma comissão de educação financeira para propor alguns passos e dicas para ajudar a evitar que as decisões financeiras do casal se transformem em conflitos desastrosos para a estabilidade conjugal.
Passo 1. Comece com uma conversa simples
No início do relacionamento, seja franco sobre suas ideias financeiras. Se você está lutando com dívidas ou tem objetivos financeiros muito específicos, comece a falar sobre isso nesse momento. Discuta seus hábitos financeiros também.
Você corre riscos ou é cauteloso com o seu dinheiro? Um poupador ou um gastador? Suas atitudes sobre dinheiro não têm que ser idênticas, mas se houver grandes diferenças, algum compromisso pode ser necessário. Para os casais, é melhor resolver essas questões agora do que deixá-las causar mal-entendidos ou discussões mais tarde.
Suas primeiras conversas devem incluir uma discussão sobre como cada uma de suas famílias lidou com o dinheiro quando vocês estavam crescendo. Nunca foi discutido? Você vivia com um orçamento apertado e econômico às vezes? Ou sempre havia muito para o que você queria?
É útil saber com quais experiências e atitudes vocês cresceram para que possam desenvolver uma abordagem acerca do dinheiro com a qual ambos se sintam confortáveis.
A conversa é muito importante para permitir que os dois estejam cientes de onde estão se metendo. Qualquer que seja o tipo de problemas, não evite compartilhar os detalhes da sua situação financeira. A honestidade antecipada sobre o histórico financeiro pode garantir condições melhores no futuro, pois permite que o novo casal planeje em conjunto como amenizar quaisquer questões passadas e maximizar potenciais vantagens futuras.
Dica – Discuta as peculiaridades do dinheiro: A menos que vocês estejam começando a vida, em geral ambos trazem hábitos financeiros bastante fortes para o relacionamento e é provável que haja alguns conflitos. Tente aprender sobre os hábitos dos dois, discuta sem julgamento quais hábitos estão funcionando e os que podem estar prejudicando e tente adotar uma abordagem híbrida de controle financeiro, que misture os bons hábitos e trabalhe para minimizar os negativos.
Passo 2. Reveja os números e (novamente) apenas converse
Discuta seus rendimentos e revise suas condições financeiras, como poupança e conta corrente, dívidas, valores a receber, imóveis ou outros ativos. Subtraia sua dívida do valor de seus ativos – dinheiro, todos os investimentos e outros ativos – para determinar seu patrimônio líquido, que é um indicador de sua saúde financeira. Evite julgar enquanto reúne os fatos, e lembre-se que vocês são uma equipe, cada um de vocês tem seus pontos fortes e fracos.
Dica – Sua, minha ou nossa? Se cada um de vocês se acostumou a gerenciar suas próprias contas correntes e cartões de crédito, discuta se devem combinar tudo ou manter alguns recursos independentes para cada um. Despesas altas no cartão de crédito conjunto, se não forem discutidas com antecedência, podem gerar algumas conversas tensas.
Se há enteados envolvidos, discuta antes do casamento como vão tratar as despesas das crianças. Vai sair do dinheiro conjunto? Vai sair do dinheiro de um cônjuge? Se vocês planejam combinar as finanças, acordem algumas regras básicas como, por exemplo, quais compras devem ser discutidas antes.
Passo 3. Vá para a ação e estabeleça um plano de gastos (e economia) conjuntos
Não há um jeito único para gerenciar as finanças como um casal. Vocês precisarão decidir como combinar melhor as finanças para o seu relacionamento.
Alguns casais optam por manter contas separadas, para que não tenham que se preocupar acidentalmente em gastar tudo em uma conta conjunta. Alguns casais têm uma conta conjunta para pagamento de contas onde ambos contribuem, enquanto outros juntam tudo e depois gastam as miudezas em dinheiro, o que ajuda a controlar os gastos excessivos com desejos.
Um bom lugar para começar é um simples orçamento conjunto que vocês podem refinar e trabalhar juntos.
Comecem somando a renda com que vocês dois podem contar todos os meses e qualquer renda suplementar. Façam uma coluna com todas as suas despesas. Subtraiam as despesas mensais da renda mensal. Podem usar um aplicativo para ver para onde seu dinheiro está indo e identificar áreas para melhoria.
Dica – Criar um fundo de dinheiro para diversão: Tentem separar uma "mesada" no orçamento: dinheiro que cada um pode gastar com o que quiser, sem ter que responder questionamentos. Isso pode ajudar a evitar brigas sobre dinheiro.
Dica – Revisão do Seguro Saúde: Cada um de vocês tem cobertura no trabalho? Conversem se podem economizar escolhendo o melhor sistema.
Passo 4. Defina prioridades de curto e longo prazo
É difícil alcançar seus objetivos se você não sabe quais são – ou o que a outra pessoa quer. Economizar será mais fácil, também, se você tiver um incentivo claro.
Você quer comprar sua primeira casa? Um lugar maior? Criar um generoso fundo de viagem? Discutir seus sonhos é o primeiro passo para torná-los realidade.
Se depois de construir um orçamento juntos vocês têm algum dinheiro sobrando, podem usá-lo para economizar para esses grandes objetivos conjuntos. Se depois de estudar os números percebem que a renda é menor do que as despesas esperadas, provavelmente terão que decidir como reduzir os gastos.
Sempre que possível, faça da redução de sua dívida uma prioridade. Acabar com dívidas e pagamentos de juros irá deixar mais dinheiro em seu orçamento mensal para gastar. Dívidas pesadas, especialmente se você atrasar pagamentos, podem dificultar créditos futuros.
Dica – Definir metas conjuntas: O orçamento como um casal pode muitas vezes levar a gastos excessivos, principalmente se ambos estiverem ganhando e os rendimentos combinados somarem mais do que suas necessidades. Tomem cuidado para, antes de ajustar os gastos para corresponderem à renda mais alta, estabelecerem algumas metas de poupança juntos.
Dica – Tem empréstimos estudantis? Discuta o plano de pagamento. Os dois contribuirão para pagar o empréstimo de um deles ou caberá à pessoa que incorreu na dívida pagar? Empréstimos estudantis podem ser um dreno das finanças conjuntas e uma fonte de tensão se não forem discutidos de antemão.
Passo 5. Coloque seu plano em ação, estabeleça prazos e reavalie
Vocês já conversaram mais de uma vez. Definiram os valores e têm um plano. É hora de decidir quem será o principal responsável pelas contas, para garantirem que todas sejam pagas em dia e que não fiquem descobertas. Mas atenção, certifique-se de que o parceiro fique bem-informado do que está acontecendo.
Considerem definir uma data mensal ou trimestral para revisar o orçamento e ver o que deu certo, o que deu errado e se é necessário fazer ajustes. Também é um bom momento para discutir quaisquer despesas futuras, como férias, feriados ou reparos domésticos necessários.
Basicamente, a gestão financeira pode ser uma oportunidade para definirem juntos metas de longo prazo. Pode parecer bobagem definir algumas metas quando se trata de suas finanças, mas estabelecer metas financeiras ajuda a melhorar a comunicação como um casal, inclusive a decidir quais as economias possíveis. Ter grandes planos e algo para buscar à frente ajudará a fortalecer seu relacionamento e pode até mesmo deixá-lo mais motivado.
Ao criar o orçamento, o cônjuge que lida melhor com dinheiro pode criar um esboço geral do orçamento, mas ambos devem finalizar juntos! Lembre-se, não há nenhum "eu" na equipe! Priorize os objetivos do casal para que o orçamento conjunto funcione melhor.
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