Lidando com o estresse e a ansiedade

09 mar | Leitura: 8min

Lidando com o estresse e a ansiedade | Blog Aprender Vivo

Comunicar-se é essencial para nos expressarmos em sociedade e para nos protegermos contra situações ameaçadoras. Em especial, no contexto da vida moderna, que impõe muitos desafios e mudanças contínuas.


Um estudo demonstrou que há redução nas reações do corpo quando a pessoa não está sozinha, ou seja, a presença de uma outra pessoa foi suficiente para diminuir as respostas de estresse e ansiedade em situações difíceis (Qi et al, 2020). Estar junto com seus pares facilita, desse modo, a superação de momentos de angústia e produz uma influência positiva nos aspectos psicológicos e fisiológicos dos seres humanos.


Lidar com uma condição médica complexa ou uma mudança de vida estressante gera para a maioria das pessoas muitas preocupações. Por mais solidário que um familiar ou um amigo possa ser, terá dificuldade para entender o que está passando e poder ajudar.

Estresse e ansiedade: o que são?

Estresse e ansiedade fazem parte da reação do corpo ao perigo. Preparam a pessoa para lidar com uma ameaça, mantendo-a alerta e focada. Ambos agem como um alarme automático que dispara quando você se sente ameaçado, sob pressão, ou frente a uma situação estressante.


O estresse é a resposta do corpo a um desafio ou demanda. Como causas do estresse podem ser identificados uma série de eventos, desde pequenos problemas diários até grandes mudanças, como divórcio ou perda de emprego. Pode também ser provocado por mudanças positivas, como conseguir uma promoção no trabalho ou ter um novo bebê.


A resposta tem componentes físicos, como o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial; pensamentos e crenças pessoais sobre o evento estressante; e emoções, como medo e raiva.


Por outro lado, a ansiedade é uma emoção caracterizada por preocupações persistentes e excessivas que não desaparecem mesmo na ausência de um estressor, apresentando também componentes físicos, como falta de ar, boca seca, sudorese, entre outros.


O estresse é a resposta geralmente de curta duração a uma ameaça identificada, enquanto a ansiedade tende a permanecer por mais tempo e não ter um disparador reconhecido. Compartilham os mesmos sintomas físicos, desencadeados pela liberação de hormônios de estresse.

A importância da sensação de segurança

A Teoria Polivagal, desenvolvida por Stephen Porges na década de 1990, trouxe perspectivas inovadoras sobre a evolução e o desenvolvimento dos circuitos neurais relacionados ao envolvimento social espontâneo e aos mecanismos de defesa responsáveis pelo desencadeamento do estresse e da ansiedade.


Essa teoria traz um novo processo para descrever como o sistema nervoso avalia o risco para a pessoa em determinadas situações, o que foi chamado de neurocepção. Identificamos sentimentos de segurança, perigo ou ameaça de vida sem consciência, por meio de um processo neurológico melhorado com a evolução.


Com a percepção de segurança, aumentam os comportamentos de aproximação social. No entanto, na ausência de sinais de segurança, é desencadeado um processo de autodefesa por meio de movimentos de luta ou fuga ou até mesmo de imobilização.


Dessa forma, em situações de estresse ou ansiedade, torna-se necessário a pessoa aprender a desligar ou prevenir o acionamento do sistema nervoso autônomo. Evitar os mecanismos próprios desse estado de defesa pode diminuir o estresse, trazer os benefícios do equilíbrio interno e facilitar as interações sociais.


A teoria polivagal nos lembra que, como mamíferos sociais, a evolução nos equipou com uma capacidade inata de manter e regular nosso sistema nervoso autônomo para aumentar nosso equilíbrio interno por meio da reciprocidade e sincronização das interações sociais.


O sistema nervoso autônomo tem sido descrito tradicionalmente como tendo dois ramos, o simpático e o parassimpático. Nesse modelo, ainda não estava incluído o papel do feedback sensorial dos órgãos viscerais nos processos cerebrais e a natureza hierárquica da reatividade autônoma aos desafios ambientais.


Na teoria polivagal, além do sistema de luta ou fuga associado à ativação do sistema nervoso simpático, se destaca um sistema menos conhecido de imobilização e dissociação associado com a ativação de uma via vagal filogeneticamente mais antiga, que explica o estado autônomo ligado à dissociação, ao congelamento, ao colapso, ao desligamento ou ao fingimento de morte, que muitos indivíduos experimentam, especialmente em situações de ameaça de vida ou violência.


A capacidade de distinguir ambientes seguros e perigosos faz parte de nossa herança evolutiva. Para sobreviver, os humanos, assim como outros mamíferos, precisavam identificar o perigo e determinar rapidamente quais situações eram seguras ou perigosas. Assim, o sistema nervoso humano evoluiu para ser sensível não só às características físicas do ambiente, mas também à intencionalidade de movimentos e interações sociais que podem desencadear ou amortecer a reatividade fisiológica defensiva.


Em um ambiente seguro, quando o sistema nervoso não está mais vigilante na antecipação de sinais de perigo, há uma mudança qualitativa no estado fisiológico que tem um profundo impacto em estados psicológicos como depressão, raiva e ansiedade.


Um estado fisiológico de segurança é mais habilitado a funcionar como uma plataforma neural capaz de facilitar circuitos envolvidos na otimização da saúde mental e física. Sem as dicas do ambiente de segurança e sem que o corpo se transforme em um estado fisiológico de calma, as tentativas de apoiar a saúde serão desafiadoras e muitas vezes ineficazes (Flores e Porges, 2017).


O grupo, nessa abordagem, funciona como um "exercício neural" ideal para promover os ajustes de diversos processos psicossociais que estão associados a regulação de emoções, reatividade do estresse e relações sociais, facilitando o desenvolvimento de novos comportamentos sociais.

Quando a ansiedade deixa de ser boa e torna-se um problema

Um pouco de ansiedade pode ajudar você a ficar alerta e concentrado, estimular a ação e motivá-lo a resolver problemas. Apresentar-se em público, por exemplo, exige um certo nível de estresse e ansiedade para uma plena preparação e para ter todos os recursos pessoais disponíveis para as adaptações necessárias.


A maioria das pessoas sentem-se ansiosas diante de uma situação desafiadora, como uma entrevista de emprego, um exame difícil ou uma situação desconhecida. Mas quando as preocupações e medos são constantes na vida de algumas pessoas e interferem nos relacionamentos e nas atividades, deixam de ser funcionais e começam a caracterizar um transtorno de ansiedade generalizada (TAG).


Eis alguns sintomas de ansiedade disfuncional:

  • Está constantemente tenso, preocupado ou no limite;

  • A sua ansiedade interfere em seu trabalho, escola ou responsabilidades familiares;

  • Sofre por medos que sabe são irracionais, mas não consegue interromper;

  • Acredita que algo de ruim vai acontecer se não fizer determinadas coisas;

  • Evita situações cotidianas ou atividades para não ficar ansioso;

  • De repente sente um ataque de pânico com o coração batendo;

  • Sente a eminência de um perigo ou uma catástrofe.

A maioria das pessoas que sofrem de ansiedade excessiva ou de crises de ansiedade sentem medo persistente e intenso ou apresentam preocupação excessiva em situações nas quais a maioria das pessoas não se sente ameaçada.

O apoio emocional no combate ao estresse e à ansiedade

Há evidências da eficácia de programas psicoeducacionais e tratamento em grupo (os grupos de apoio) para controlar a ansiedade, o estresse e outros tipos de transtornos mentais. Ante os sintomas, é importante procurar ajuda, em busca de qualidade de vida e bem estar.


Os grupos de apoio informam, ensinam e apoiam, sob a liderança de um profissional experiente na área. Compartilhar suas experiências com outras pessoas que estão em uma situação semelhante pode ajudá-lo a se sentir menos sozinho. Você pode compreender melhor o que esperar do seu tratamento ou de uma determinada situação de vida.


Membros de um grupo de apoio normalmente compartilham suas experiências pessoais e oferecem um ao outro conforto emocional e apoio moral, com orientações específicas do terapeuta responsável pelo grupo. Os grupos de apoio também podem ajudar a aumentar o senso de empoderamento e controle, assim como melhorar as condições para enfrentamento e adaptação, auxiliando a reduzir a angústia, depressão ou ansiedade.


Mudanças de vida como o processo de divórcio, envelhecimento, adoecimento (por exemplo, câncer, diabetes e outros) desafiam os envolvidos a uma pronta adaptação, o que gera múltiplos sentimentos e ameaças, desencadeando quadros de muita ansiedade. Grupos de apoio, inclusive com componentes educativos, desempenham um importante papel na criação de espaços para o compartilhamento de experiências, melhorando as reações fisiológicas e psicológicas da pessoa.


Por isso, os grupos de apoio têm se mostrado uma das melhores opções em momentos de transição na vida, como na iminência ou durante os processos de separação e divórcio, nascimento de um filho, ou frente a doenças graves ou que exigem alterações no cotidiano.


A Aprender Vivo oferece grupos de apoio semanais, com a coordenação de um profissional experiente na área. Os grupos contam com uma dimensão educativa, com informações relevantes para o enfrentamento da situação específica daquele grupo e também o apoio emocional promovido pela condução do grupo em ambiente protegido.

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