A violência doméstica à luz do pensamento sistêmico
11 Fev | Leitura: 4min
O relevante papel desempenhado pela terapia familiar pode ajudar a lançar uma nova luz, a partir de uma perspectiva sistêmica, para a compreensão do fenômeno da violência doméstica, na tentativa de ajudar as mulheres e as famílias atingidas por meio de um olhar para o sistema familiar e sua saúde mental e integral.
Questões com os filhos, queixas a respeito do casamento, hostilidades familiares no dia a dia e sintomas que se desenvolvem no indivíduo durante uma transição familiar são exemplos de problemas familiares nos quais, dentre outros tipos de terapia, uma abordagem de terapia familiar é indicada.
Dentro desta perspectiva, o olhar do terapeuta precisa estar voltado para o sistema no qual a pessoa está inserida, analisando o sistema de relacionamento familiar até as gerações passadas. Um pensamento sistêmico é então acionado, não focando no adoecimento do indivíduo isoladamente, mas considerando as interações e relações entre todos os membros da família e os sistemas interligados.
Teoria dos sistemas
A teoria dos sistemas tem origem na biologia, matemática, física e engenharia da década de 1940, partindo da premissa de que um sistema é ou pode ser composto por sistemas menores e ainda fazer parte de um sistema maior e mais complexo. Desse modo, as propriedades de um organismo surgem das interações e relações entre todas as partes e o todo é sempre maior que a soma das partes.
Dentro da perspectiva sistêmica surgiram então várias escolas em terapia familiar, as quais compartilham fundamentos em comum, como a questão da causalidade circular e não causalidade linear e o estudo das relações e sistemas interconectados em sistemas maiores, dos quais a família é um exemplo.
A avaliação sistêmica abarca os níveis intrapsíquicos, biológico e interpessoal de uma família, estendendo a análise para a comunidade e cultura na qual está inserida. As famílias estão, assim, organizadas dentro de estruturas biológicas, legais, culturais, emocionais, além de uma organização conforme a geração, idade, gênero, entre outros fatores.
Violência doméstica
Seguindo esta perspectiva, o estudo da violência abrange o sistema familiar como um todo e vai mais além, estudando também a transmissão transgeracional. Não se fixa, portanto, apenas na família nuclear, investigando até três gerações.
O fenômeno da violência doméstica precisa ser analisado através não só do casal e da família que vivenciam a violência, mas também das gerações anteriores. As dificuldades conjugais atuais se referem a pelo menos três gerações e seriam um esforço para reparar, corrigir, controlar, defender e apagar antigos e perturbadores paradigmas relacionais ligados à família de origem.
As questões atuais da família seriam, assim, uma reedição de situações de gerações anteriores e problemas como alcoolismo, incesto, sintomas físicos, violência e suicídio tenderiam a ser repetidos nas famílias de geração para geração.
O comportamento violento é transmitido por meio de aprendizagem social, via socialização na família, engendrado por processos identificatórios. Além disso, envolve fenômenos inconscientes que podem ser investigados através dos segredos familiares passados de uma geração para outra.
Herança ancestral
A herança ancestral é um modelo poderoso para a família nuclear, na qual o grupo familiar é reduto de transmissão psíquica genealógica. Não se pode perder de vista, no entanto, o momento presente e a transformação que a família nuclear pode fazer, não sendo dessa maneira totalmente determinada por repetições de comportamentos e de relações da família de origem.
Quando um casal se encontra, algo novo acontece. Duas pessoas diferentes unidas, também serão diferentes diante de vínculos anteriores. Contudo, há uma transmissão transgeracional de padrões familiares até o momento presente da família nuclear, com o acréscimo de todas as novidades vivenciadas, já que os membros não são clones de seus antepassados, mas indivíduos portadores de uma herança ancestral que pode estar parcialmente recriada.
Abordagens terapêuticas
Sendo assim, falando especificamente da intervenção em terapia familiar sistêmica, com foco na violência doméstica, vale mencionar o conceito de resiliência familiar. O terapeuta, neste caso, irá investigar os processos interativos dos envolvidos e a capacidade de cada membro frente ao trauma e às situações vivenciadas na vida.
Há também a abordagem de tratamento focada nas competências da família, em que o terapeuta espera que os clientes tenham os recursos necessários para saber o que é que lhes aflige e resolver suas próprias dificuldades.
Esse sistema sugere, desse modo, que os terapeutas familiares focalizem mais as competências das pessoas do que suas deficiências, mais as suas partes fortes do que as fraquezas e mais as suas possibilidades do que suas limitações, na compreensão de que mais do que realçar o que não está funcionando, sua tarefa é identificar e amplificar as possibilidades de mudança.
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